sexta-feira, 20 de março de 2020
terça-feira, 21 de agosto de 2018
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
SÓ CHUVA, NÉ?
Por Carlos Correia Santos
A
sutileza dos costumes é certamente o mais infalível dialeto da comicidade.
Poucas coisas falam mais do ser humano que o discreto hábito da repetição.
Sobretudo com relação ao repetir “aquilo que parece inevitável dizer”. Um bom
exemplo disso? A chegada do inverno em Belém do Pará. Tempo fechado de manhã,
de tarde, de madrugada. O resultado? Ninguém fala mais “bom dia”, “boa tarde”,
“boa noite”. Quem mora em Belém bem pode fazer o teste. Você sai cedinho para o
trabalho, o toró ali, implacável. De repente, cruza com aquele vizinho, velho
conhecido. E qual é o primeiro pai-nosso que o sujeito lhe diz? “Bom dia”?
“Olá, tudo bem”? “Como vai a família”? Não. Claro que não! A tirada certa é:
“Só chuva, né?”. Então, o fato é esse! Basta o inverno chegar e o cumprimento
oficial da cidade se torna: “só chuva, né?”.
Você
está lá, na parada, esperando o ônibus – que certamente passará lotado –,
compenetrado no excitante exercício de se proteger do banho que pode levar por
causa da poça d’água em frente... Subitamente, um colega de infortúnio resolve
ser simpático e o aborda com o
indefectível: “só chuva, né?”. Chega o ônibus, fecha-se o guarda-chuva –
aquela molhadeira –, entra-se com pressa
no coletivo. Aquele festival de gente úmida. Mas muita gente úmida mesmo! Você
se segura numa das barras e uma moça ao lado decide puxar papo: “só chuva,
né?”. A resposta? O que mais além de um risinho entediado?
O
ônibus passa da parada. Você tem de empurrar uns e outros para descer.
Finalmente, desce, mas só consegue abrir o guarda-chuva depois de uns cinco
minutos. Corre, chega ao prédio em que trabalha. Está passando pela portaria e
o vigilante faz questão de ser cordial: “só chuva, né?”.
Por
mais que tenha tentado evitar, você acaba chegando atrasado em sua sala,
encharcado, a um triz de virar sopa. E qual é a primeira coisa que lhe diz seu
companheiro de repartição? “Só chuva, né?”.
Você
senta a sua mesa – logicamente após ter arranjado um cantinho em que deixar o
guarda-chuva aberto – toma fôlego para começar a jornada e... toca o telefone.
Você atende. Do outro lado, no lugar do famoso alô, o que se ouve? “Só chuva,
né?”. Trata-se da secretária de seu chefe. Após a célebre saudação, ela explica
que o todo-poderoso quer vê-lo com urgência. Você não pode perder tempo. Chega
na sala do homem esbaforido e, pasmem, pela primeira vez é cumprimentado de
forma diferente: “Isso são horas, meu amigo? Assim não dá!... Tá pensando o
que? Aqui não é casa da mãe Joana, não!”... Você tenta argumentar de todas as
formas. Mas, sempre que faz menção de abrir a boca, é interrompido. O chefe
continua sem piedade: “Eu tô avisando: mais um atraso desses e é rua! Rua mesmo!
Aqui não tem lugar pra espertinho, tá entendendo? Ou quer trabalhar; ou não
quer trabalhar”. E você tentando falar. “Dez minutos de atraso! Isso é um
absurdo! Como é, meu amigo? Você não tem nenhuma explicação pra me dar? Vai
ficar aí com essa cara de parvo?”. É a deixa. Finalmente lhe é dada a chance de
se defender. Então, você solta a pérola “Sabe como é, doutor... Só chuva, né?”.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
MICROCONTO MÓRBIDO 01
Por Carlos Correia Santos
A verdade zumbi... era que ele saboreava um imenso prazer de
ir a velórios. E quando, com voz mole e quase quentinha, chegava junto aos
familiares para dizer “eu sinto muito...”
guardava só para si, com invisíveis risos, o resto da frase: “...tesão de ver
vocês sofrendo assim”
domingo, 2 de fevereiro de 2014
PEQUENA CARTA PARA MEUS IMENSOS MESTRES
Por Carlos Correia Santos
Hoje,
subindo o elevador do prédio em que moro, coincidentemente encontrei minha
Professora de Português no ensino médio (acho que nem se chama mais assim).
Professora Amélia. Tão temida e tão respeitada quando eu era um garoto. Também
por coincidência, eu trazia comigo um exemplar de VELAS NA TAPERA. Tive, então,
uma das mais belas oportunidades da vida.
-
Professora (sim, eu para sempre vou chamá-la desta linda forma), este é um dos
meus livros...
-
Eu sei, Carlos. Vi no jornal matéria a respeito.
-
Pois bem, eu já lancei essa obra aqui, em outras cidades, em Portugal.
O
riso amplo da mestra e sua confissão:
-
Eu sei também. Fico tão feliz. Sempre que vejo notícias suas na mídia, falo:
ele foi meu aluno. Tem gente que não acredita.
-
Pois eu faço questão de sempre dizer para todo mundo: a sintaxe da minha
literatura tem o carimbo da fantástica Professora Amélia.
Ela
se emociona. Eu me emociono. Chega meu andar. Vou saindo. E ela:
-
Parabéns por tudo, Carlos. Tenho muito orgulho mesmo de ter colaborado com tua
história.
E
eu:
-
Obrigado por tudo, Professora Amélia. Infinito e imenso obrigado por tudo.
Por
tudo... Por cada sílaba que me ensinou a escrever melhor. Por cada bronca em
prol do melhor de mim. Por cada nota que deu para que hoje eu pudesse
orquestrar meus textos. Por tudo.
Meus
amados professores, obrigado a todos vocês. Permita-me Deus ainda encontrar um
a um e agradecer. As mãos de todos vocês acarinham e dão rigor e precisão a
minha quando escrevo. Sou um pouco do muito de vocês que segue páginas afora.
Obrigado. Muito obrigado.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
MINI CRÔNICA DE DOR POR MEUS LPS
Por Carlos Correia Santos
Ódio disso!!!! Eu tinha quilos de LPs. Aí a indústria
fonográfica, nos idos dos anos 90, impõe: "Jogue tudo fora! De agora em
diante, só os CDs terão espaço em vossas almas e orelhas!". Ainda resisto,
passo uns tantos anos perseverando, mantendo os pobres elepezinhos em cantinhos
protegidos. Mas, nos meados dos anos 2000, já mais de dez anos passados, com
lágrimas nos olhos, eu atino que a melhor coisa é mesmo a despedida... Adeus,
vinis amados, adeus... Não haveria mais como ouvi-los, a “obsoletude” era mesmo
o destino... Até os artesãos já começavam a usar o material em decorações...
É... Adeus minhas bolachinhas pretas... Adeus... E lá se foram elas... Todas
lançadas ao nunca mais, ao léu de lixos surdos por Naldos e Anitas... E
AÍIIIIIIIIIII... (virada dramática) Ódio!... Qual é a nova moda do momento?
Qual é o novo preto da estação em pleno 2014?... OS LPSSSSSSSS!!!!!... E eu...
Eu não tenho mais NENHUMMMM!!!!!!.... Lembro de Carla Camurati na capa do LP da
novela Fera Ferida e choro!... Lembro da figura louca da capa do LP do Information
Society e choro!... Lembro de Nat King Cole sorrindo maliciosamente para mim na
capa do LP e choro... Lembro de Michael Jackson, tão thriller, na capa do LP e choro... Lembro de Ney
Matogrosso nuzão na capa dupla do LP e.... enfim... Lembro de Gigliola
Cinquetti... E choro... Choro muito... Como diria Dalva... Tudo acabado entre
nós, já não há mais nada... Só me resta assistir Globo de Ouro, no Viva, e...
soluçar...
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
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